O caminho
que ninguém deveria fazer é este que faz geralmente um cão quando tenta
entender sua existencialidade: ‘ O porquê de ser sempre perseguido seja lá a
direção que tome em sua vida. ’ Esta é a lógica do cachorro, tanto é que quando
não tem uma roda de carro, um pedal de bicicleta ou o traseiro de outro amigo
canino para sair atrás, resolve sair às voltas e no maior alarido a buscar este
seu arqui-inimigo e eterno perseguidor:
o próprio rabo.
Parece que
nós os humanos somos um pouco assim. Vez por outra nos colocamos neste brete em
que não vemos saídas e como toda conjectura nos leva à conclusão de que somos
as eternas e inocentes vítimas; os
maiores perseguidos de toda humanidade, então
começamos o nosso muro de lamentos acudindo aos céus por justiça e com toda
certeza disparamos a correr atrás de nossas infelicidades e injustiças feitas a
nós, é claro. Assumimos esta postura de correr atrás do próprio rabo, ou
melhor; do próprio Ego, de tal maneira que tudo o mais que passe ao nosso
redor deixe de existir a não ser um enorme buraco no qual nos metemos dentro e
a única visão que temos é nosso dito cujo problema visto de maneira unilateral.
E este poço é tão grande que palavras de outros soam como a voz enganosa das
sereias ou Delfos de um perdido sonho mitológico no qual não acreditamos
jamais. Somente nele, ou melhor,
nosso Ego.
Aí encontramos aquelas pessoas que não saem à
rua por n motivos, não se olham no espelho por outras x desculpas. Choram dias
a fio sentindo-se as piores vítimas. Sem consolo começam a não prestar atenção no
mundo lá fora, fora delas mesmo quero dizer. O sol sai; a lua brilha; a chuva
cai; as flores desabrocham; frutos maduram; praia, festa e dentro delas o tempo
é sempre o mesmo: nuvens de tempestade, raios, trovões e um ar pantanoso de
filme de terror. Até que um dia uma destas aranhas tecedeiras de pensamentos e
de sonhos brumosos, deixa cair um ponto de seu tecido e uma nesguinha de luz
consegue passar e por um ponto e vírgula nesta história de lamentos sem ponto,
nem reticências. Um olho a vê, o outro segue o primeiro e a curiosidade de ver
o que está passando, leva-as a deixar um pouquinho as queixas na gaveta do
armário das lamentações e com dificuldades abre a cortina.
Assim pode
começar sua recuperação e irá correr atrás de outra roda, outro pedal de
bicicleta outro rabo que passe, que não seja o próprio, e começa a correr em
linha reta outras vez os caminhos da vida.
Então seja
ou não seja feliz seu dia, creia que lá fora, de você, sempre estará a
oportunidade de ver despontar outra estrela num céu escuro. Nunca tenha medo de
dar o primeiro passo, ainda que tropece, pior é não arriscar-se a dar passo
algum.
IsiCaruso
16-10-13