Estar na escola para uma menina de família pobre era uma vitória, estar na Escola Normal da cidade era um luxo que a poucos era permitido. Minha Juvenal Miller.
Meu pai era um alfaiate que eu via preso à máquina de costura dias a
fio e madrugadas adentro.
Minha mãe uma dona de casa preocupada em auxiliá-lo nas
tarefas de mão nas costuras, fora os bichinhos de pasta que ela fazia para
acrescentar alguns cruzeiros ao orçamento doméstico. Para mim desde pequena
sobravam tarefas domésticas e a escola.
Lembro que à noite minha mãe gostava de contar histórias, contos de
fadas, e também suas histórias do tempo de infância. Antes que eu aprendesse a
ler as revistas que chegavam até nossa casa, me fascinavam, queria poder ler,
saber das coisas que estavam escritas.
Até que chegou o dia de ir para a escola. Eu iria aprender a ler!
Para
mim isto era um sonho. Sonho de letras e mensagens com as quais eu construiria
meus castelos, neles eu já vivia, pois sempre tive uma bela imaginação que me
dava asas.
O primeiro uniforme daqueles típicos da época, saia pregueada azul marinho, com
alças, camisa branca, sapatos pretos lustrados, brilhavam!
Pasta só para mim,
lápis, cadernos, meus sonhos de papel!
Minha primeira professora.
Como ela era alta (talvez eu fosse pequenina), falava com clareza.
Firme organizou a turma, e aí uma história, do jeito que só ela sabia contar.
Maria Cristina, o nome dela. Jamais a esquecerei. Aprendi a ler sem sentir, como
mágica, em pouco tempo as letras já desvendavam para mim todo o universo dos
livros e das revistas que eu tanto adorava.
Começava assim, através do trabalho dela, minha peregrinação pelo mundo
das letras. Foram nascendo textos de todas as formas até que eu sentisse que a
poesia seria aquele com o qual eu mais me identificaria e com ela eu poderia
voar através das asas da emoção.
Cursei o Normal, como toda adolescente do meu tempo. Lá estava ela.
Maria Cristina Guimarães Lima como minha professora de Literatura Infantil e o
seu mundo fantástico das histórias infantis que ela tão bem contava. Vi-me
novamente embarcando no mundo encantado das histórias que ela, com tanta
propriedade, iniciava a narrar: Era uma vez...
Ela era e sempre será uma grande contadora de histórias, sabia dar vida aos
personagens e transportar a gente para aquele lugar, onde os sonhos tomavam
forma e a vida tornava-se menos dura e menos feia que a realidade. Ela era uma
grande professora, a que eu queria ser. Ela era uma contadora de histórias, o
que eu queria me tornar, uma escritora, alguém que pudesse levar sonhos às
outras pessoas. Nisto ela tem seu quinhão, em tudo que eu escrevo lá está ela,
a minha primeira professora, que me ensinou a ler e a escrever.
Hoje posso dizer:
“Meus textos
São pássaros de palavras,
que voam em folhas nuas
e riscam as madrugada
Meus versos
são flechas, espadas
que rasgam o tempo nas ruas.
Minhas palavras
são meus textos de sonhos
que rasgam as ruas. Nuas,
marcando minhas pegadas.”
E ela, Maria Cristina Guimarães Lima, está no início de tudo.
Obrigada professora.
IsiCaruso
3 comentários:
Belíssimo texto e belíssima homenagem Isi! Parabéns.
Sou testemunha integral e participativo de tua linda história, pois eu estava ao teu lado quando lá chegaste!
Parabéns Mana Isi. Te amamos!
Mano Paulo e a turma de Pelotas (RS).
Bela homenagem à Prof Maria Christina. Minha mãe colocou esse nome na minha irmã caçula, em homenagem à sua querida colega do Juvenal Miller.
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